terça-feira, 19 de março de 2013

D. MADALENA DE VILHENA


Esta obra foi largamente influenciada pela vida de Almeida Garrett, nomeadamente pelas suas duas grandes paixões e pela questão relacionada com a legitimidade da sua filha.

O autor desta peça foi uma das figuras mais importantes na afirmação do Romantismo em Portugal, no qual se insere Frei Luís de Sousa. Madalena é uma personagem que apresenta características românticas ao longo da obra; as suas crenças e superstições, que sistematicamente aludiam a agouros; o seu individualismo demonstrado pelo seu confronto com a sociedade contemporânea preconceituosa; o tema da morte, simbólica, aliada à de Manuel que, ao tomarem o hábito, morrem para a vida mundana.

Esta personagem vive obcecada com passado e aterrorizada pelo futuro. Inicialmente, tenta negar os agouros de Telmo e, embora não acredite racionalmente no mito Sebastianista, que lhe pode trazer D. João de Portugal, teme a possibilidade da sua vinda. É uma personagem dominada por pressentimentos que a fazem levar uma vida de permanente desassossego. Sente-se culpada por ter amado Manuel de Sousa Coutinho durante o seu primeiro casamento. Madalena acaba por sucumbir aos agouros, o que a leva a viver em constante dor e angústia. Hesitante e perturbada, é uma personagem comandada pelo coração, à imagem do herói romântico, cujas emoções se sobrepõem à razão.

É uma mulher bela e de carácter nobre. Com apenas dezassete anos perdeu o seu marido e os sete anos que se seguiram foram dedicados à sua procura. Almeida Garrett retratou Madalena como vítima de um amor contrariado: pelo seu primeiro marido sentiu respeito, enquanto que o seu amor estava voltado para outro homem. Esta paixão, cega, levou-a a casar com Manuel de Sousa Coutinho com bastante leviandade. Manuel era o seu verdadeiro amante e foi a ele que Madalena dedicou a sua alma e coração durante o seu matrimónio de 14 anos.

A sua felicidade é efémera. Madalena vive resguardada nos seus problemas pessoais e não aparenta possuir outros interesses que não os relacionados com a sua felicidade e com a da sua família. É uma personagem impotente perante o Destino e o Fatalismo. A tentativa de salvar o retrato do marido e a constatação do dia de sexta-feira quando Manuel e Maria se ausentam ilustram as suas constantes preocupações. Coincidência ou não, “Madalena” lembra o nome da figura bíblica pecadora de mesmo nome.

Desde o inicio da peça, revela-se bastante agitada e vai-se desmoronando perante os agouros e indícios em seu redor, transformando-a numa personagem sensível e influenciável, de personalidade fraca, que não consegue resistir à realidade dos factos aquando do regresso do seu primeiro marido.  Madalena é delicada e profunda – vive uma vida mentalmente miserável baseada em suposições. A sua personalidade e as suas ações acabam por ditar o tom melancólico e apreensivo da obra. Aquilo que Madalena fez, ingenuamente, no passado influencia o seu estilo de vida, sobretudo o psicológico, e molda o seu futuro. É uma personagem com uma importância tremenda, já que é ela a responsável pelo desfecho de Frei Luís de Sousa (com a possível exceção da morte de Maria).

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